terça-feira, 1 de julho de 2008

A Princesa dos Pés Pretos
















Os alunos do 5º A apresentaram, no auditório da escola EB2,3/sec de Mondim de Basto, sob a orientação das professora de Educação Musical e de Matemática- Elisabete Guedes e Sandra Vilela respectivamente- o teatro de marionetas intitulado” A Princesa dos Pés Pretos”, adaptado do texto dramático com o mesmo nome.A apresentação à comunidade escolar, pais, Encarregados de Educação e alunos do pré-escolar
esteve excelente e digna de ser vista. Revelou muito trabalho e empenho, quer da parte dos alunos que estavam felizes por poderem mostrar o que de muito se faz nas escolas, quer da docente que proporcionou esse momento de felicidade. Esta peça para além da componente lúdica, tinha uma componente educativa, virada para os valores da cidadania, na medida em que alertava a sociedade para a necessidade de preservar a natureza e salvar o planeta terra da poluição e da destruição humana. Dada a importância da mensagem veiculadano texto, achámos por bem colocar o texto, ainda que com algumas supressões, dada a sua extenção.


PERSONAGENS

- BORBOLETA
- CAÇADOR DE BORBOLETAS
- PRÍNCIPE MALMEQUER
- PRINCESA DOS PÉS PRETOS
- MOCHO ADIVINHO
- CAVALEIRO VENTO
- BICHO DAS SETE CABEÇAS

Príncipe Malmequer
(está sentado junto à árvore, de cabeça baixa)
Borboleta ( esvoaça)
Caçador de Borboletas (persegue a borboleta e fala para o público)
Ei, quietos e calados! Chiuuu! Que esta maravilha está em falta na minha colecção. Mas desta vez não escapa, não! (vai devagarinho para tentar apanhar a borboleta)
Borboleta(vai pousar no príncipe malmequer)
Caçador de Borboletas
(tenta apanhar novamente a borboleta. Tropeça no malmequer e cai. A borboleta foge e sai de cena. O caçador fica zangado e desanimado.)
Para que foste nascer aqui? Corro há meses atrás daquela mariposa, apareces tu no caminho, passas-me uma rasteira, quase partia o meu narizinho.(...) Ai que dor!... (chora e esfrega o joelho)

Malmequer ( chora também)
Caçador(pára de chorar)
Malmequer(também se cala)
Caçador
- Mau! Ia dizer que este sítio tem eco.(chora)
Malmequer (chora)
Caçador
- Ai, ai, ai, ai! Alguém está a fazer troça da minha azelhice, ou será o espírito da borboleta que ficou a pairar no prado?
(admirado, tenta localizar de onde vem o som. Descobre o Malmequer).
- Quem és tu?
Malmequer
- Sou um malmequer.
Caçador(irónico)
- Malmequer? Logo vi! Fizeste com que perdesse uma bela borboleta para a minha colecção. Malmequer... não me quer bem, não. Olha... estou triste e muito zangado contigo.
Malmequer
- Não te zangues caçador. A minha tristeza é maior.
Caçador
- Maior que a minha? Pode lá ser! Não sabes o que é andar dias a calcorrear prados, escalar montanhas, trepar às árvores dos bosques à procura duma borboleta rara, tê-la à mão e, de repente, vê-la pisgar-se mesmo debaixo do nariz.
Malmequer
- Por uma borboleta estás triste. Como não hei-de estar eu, que choro porque uma desgraça se abateu sobre a minha família.
Caçador
- Donde vens tu? Onde moras?
Malmequer
- Vivo no seio da terra. Sou do reino das raízes, das sementes, dos grãos, das flores, das árvores, das montanhas, dos frutos, dos rios, das cores e das águas cristalinas. O meu reino está doente e não há meio de descobrir remédio para a aflição por que estamos a passar.
A princesa flor, minha irmã está muito mal. Tem os pés da cor do breu.
Caçador
-Conheço todas as cores, menos essa.
Malmequer
-A cor do breu é preta. Até eu, que era amarelinho, estou a ficar malhado. Bem mandámos chamar sabedorias, físicos, alquimistas, boticários, barbeiros e charlatões. Todos receitaram ervanárias, sangrias, tisanas, mezinhas, pós e pomadas, mas a princesa, essa, com os pés negros ficou. Eu começo a ficar estragado.
Um nevoeiro baço invade a minha terra. O que dantes era cor, beleza, alegria, hoje é triste, feio e cinzento.
Ando a correr mundo à procura de alguém que possa descobrir remédio para a doença que alastra. Queres ajudar-me?
Caçador(indeciso)
- Bom... no teu reino há borboletas?
Malmequer
- Se há! Mais de duzentas mil. Asas de Cristais multicolores. De noite, são como foguetes de lágrimas a bailar à luz dos pirilampos. De dia, são maravilhosos leques vivos de encher os olhos.
Caçador
- E... na tua terra pode-se caçar borboletas?
Malmequer
- Caçar? O que é isso?

Caçador
- Caçar... é prender, aprisionar, meter na gaiola...
Malmequer
- No meu reino não há prisões. Todos nascemos e morremos livres. Mas, para que queres tu aprisionar borboletas?
Caçador
- Para ser só eu a olhar para elas. Para poder dizer: fui eu quem as caçou. São minhas. Muito minhas.
Malmequer
- Se for só para olhar, levo-te ao meu reino e falarás com a minha amiga, a dama da couve, que é a rainha das borboletas.
Pelo caminho contar-te-ei uma linda história de amor, entre uma flor cor-de-rosa e uma borboleta azul. Anda. Falarás e conhecerás a minha irmã, a Princesa Flor.
Caçador
- E com a rainha das borboletas?
-
Malmequer
- Sim, também com essa.
Caçador de borboletas e príncipe malmequer
(fazem uma viagem até ao reino do príncipe malmequer)
Malmequer
- Chegámos. É aqui.

CENA II

Princesa dos pés pretos, Príncipe Malmequer, Mocho Adivinho e Caçador de Borboletas
(entram a cantar em coro. A Princesa tem os pés pretos e vem a chorar)

CORO

Do reino da natureza
A alegria foi-se embora,
O cinzento invade tudo
Tudo é triste, tudo é triste, tudo chora.

Até a princesa Flor
Chora que dói o coração
Tem os seus pés escuros
Tão negros, tão negros como o carvão.

Princesa(chorosa)
- Adivinho, o que vês?
Adivinho
- Desolação!
Todos
- Tchu...!
Adivinho
- Vejo agora um planeta a dar pancada num cometa, dentro da casa solar.
Princesa
- O que lês?
Adivinho
- Guerra nuclear!!!
Todos(arrepiados de medo)
- Credo em cruz, santo nome de Jesus!!!
Adivinho
- Lua Cheia e Lua Nova a fugirem do Leão. Uma com a mão no nariz, outra com o nariz na mão...
Princesa
- Que significa?
Adivinho
- Poluição!
Todos
- Breee!!!
Princesa
- Astrónomo pergunta agora à Estrela Polar se o Cavaleiro Vento demora muito a chegar.
Adivinho
- Estrelinha, estrelinha dalém, o cavaleiro vento vem ou não vem?
Cavaleiro Vento(entrando, roupas flutuantes)
- Cavaleiro Vento, que novas me trazes desse mundo lá de fora?
Vento(canta e fala para o público)

Sou vento aventureiro
Corro o mundo de lés a lés
O que vi por esse mundo
Não tem cabeça nem pés.

- Subi às nuvens, escorreguei pelas gargantas das montanhas, levantei as areias dos desertos, soprei os gelos dos pólos, empurrei as ondas do mar, deslizei nas neves dos montes, abanei as árvores das florestas, varri o capim das savanas. O que vi, deixou-me aterrado. São histórias de arrepiar.(...)
Que fazer? Uivar um lamento? Armar pé-de-vento? Não. Para esquecer a minha tristeza e dor, vou bailar ao redor. Vou tornar-me tornado, tempestade, ciclone, furacão. Vou assobiar aos ouvidos de todos os homens até dizerem não...à destruição.
(ouve-se o vento a soprar e as personagens tremem de medo. Depois acalma-se e sai)
Adivinho
(olhando para a bola de cristal)
- Princesa! Já vejo a solução para curar o teu mal e a nossa aflição.
Princesa
- Diz! Diz depressa o que vês!
Adivinho
- Vejo um bicho-de-sete-cabeças a vomitar fumo preto para o ar e a água negra do mar.
Vejo um enorme dragão a devorar florestas e a trincar cactos ressequidos.
Vejo uma flor, quase a abafar com falta de ar.
Vejo lixo a passear, o barulho a crescer, o nevoeiro a aparecer, a cor verde a fugir e o cinzento a vir.
Estou a ver a terra a ficar envenenada, a expirar e a morrer.



Todos(dizem e cantam em coro))
- Mas isto não pode ser, não!
É preciso matar o dragão!

Nasceu um bicho medonho
Cobra, serpente, dragão
Sete cores, sete cabeças,
Um nome: poluição!

Quem o fez, quem o pariu
Foi o homem e o seu bem-estar
Agora o bicho está vivo
Alguém o tem de matar.


Adivinho
- Tiremos à sorte para encontrar quem, dentre nós o há-de exterminar.(...)
Caçador
-E se me calha a mim? Nem pensar. Morro de medo e não completo a minha colecção de borboletas.
(continua a cantilena, depois de estar acabada...)
-Oh! Não! Calhou-me a mim!!!
Adivinho(para o caçador)
Para matar o dragão, presta a tenção: terás de lutar. Só com esforço, trabalho e coragem o conseguirás. (...)
Caçador(para o público)
- Que chatice, isto só me toca a mim!
Adivinho
- Vai e que a sorte esteja contigo.
Todos
- Que a coragem esteja contigo.
Princesa dos pés pretos, príncipe Malmequer e Mocho Adivinho(saem)

CENA III




Caçador (Inicia uma longa viagem e fala para o público)
- Quando chegar ao buraco do bicho não quero ouvir sussurro nem cochicho. Vamos fazer uma combinação? Todos têm de suspender a respiração para não acordar o dragão.
Já lá vão dois dias. (boceja)
Que sono. Vou matar o bicho... vou beber café para me manter em pé. (treme)
Já estou a tremer?
Eu cá não sou medroso, não senhor! É que o café põe-me nervoso. (...)Os meus olhos pesam toneladas. Vou descansar um pouquinho. (nota que há barulho na sala)
Chiuuu! Então, o combinado?

Bicho das Sete Cabeças
(está a dormir à porta do seu covil. O Dragão simboliza o reverso negativo do desenvolvimento e progresso industrial: a poluição do planeta nas suas diversas faces. O bicho das sete cabeças, ao mais pequeno barulho mexe-se)

Caçador(dormindo. A partir de determinada altura ressona forte)
Bicho das Sete Cabeças
(acorda furioso e ameaçador com o ressonar do caçador. Dirige-se ao caçador)
Caçador
- Aiii! Ó mãããeeeeee olhe ele!!! (foge para o público. De longe, põe-se a provocar o dragão)
- - Anda cá, julgas que tenho medo de ti? Faço-te num oito. Dou-te um nó nessas cacholas!
Bicho das Sete Cabeças(faz que sai do palco)
Caçador(Cheio de medo)
- Ai, que ele vem aí! Agarrai-me senão eu mato-o!
Bicho das Sete Cabeças
- Ó pá anda cá para a minha porta que eu é que te digo o arroz!
Caçador(fanfarronando)
- Anda cá que eu tiro-te a tosse, limpo-te o sebo, ó sebento!
- Andas para aí a estragar as florinhas, seu porcalhão!
Bicho das Sete Cabeças(sai do palco)
Caçador(para o público)
Socorro! Help! Valha-me Santo António que estou perdido! Ó mãe!!
Bicho das Sete Cabeças(ameaçador, vai para o palco aos berros atrás do caçador)
Princesa dos pés pretos, Príncipe malmequer e Mocho Adivinho(entram a cantar em coro)

Cantem seres da natureza
Canta chuva, canta mar
Ó ervas cantem em coro
Não é preciso chorar.

Morreu bicho peçonhento
Às mãos de quem o criou
Era um filho do homem
Homem fez, homem matou!

Caçador
Agora toca a avisar da morte do bicho. (grita)
-Matei o bicho!
Príncipe Malmequer, Princesa dos Pés Pretos e Mocho Adivinho
Princesa
- Os meus pés estão brancos como a neve.
Malmequer
- Já não tenho manchas cinzentas
Adivinho
- A cor verde voltou ao nosso reino.
Vento(entrando)
- Boas novas vos trago. Já não chove chuva que rói, a água está límpida, o ar está fino e puro, o mar não tem nódoas negras, as maçãs estão rosadinhas com saúde e um rouxinol canta uma bonita melodia.
Malmequer
- Bailemos, que nasceu um novo dia!
Todos, menos o caçador(bailam)
Adivinho
- Na floresta, vou organizar uma grande festa!
Caçador
- Ora esta. Estão a ver? Fui mata-bicho, liquidei um dragão, agora todos se esquecem de mim. Oh! Ingratidão, ingratidão!
Princesa(dirigindo-se ao caçador, canta)

(...)
Não há reis da Natureza
Reis nós somos tu e eu
Se vivermos um p’ró outro
Um novo dia nasceu.

Vento
- Adivinho, o que diz a bola?

Adivinho
- Vejo um casamento entre um Homem e uma princesa do Reino da Natureza. Mil anos de felicidade, muitos filhos... com certeza.

(Princesa dos Pés Pretos e Caçador de Borboletas juntos, de mãos dadas.)

Autor(desconhecido)

FIM

1 comentário:

Anónimo disse...

A minha mãe mostrou-me as fotografias do teatro e lemos a história e gostei muito porque fala da Princesa dos Pés Pretos e do reino poluido pelo Homem. A parte que eu mais gostei foi quando o reino voltou a ser verde e a Princesa ficou outra vez com os pés brancos.